quarta-feira, 20 de junho de 2012

O fim da estrada

O fim da estrada é uma das estranhas atracções que São Tomé tem para oferecer. Basta olhar para o mapa das estradas para perceber que o anel não fecha, há uma área misteriosa no Sudoeste do país sem estradas nem comunidades. O percurso normal para lá chegar é simples, basta chegar à marginal e começar a conduzir em direcção à esquerda (com o mar de frente) e continuar até não dar mais. Vão passar por um par de comunidades até atravessarem Guadalupe, depois viram as planícies de savana e a fantástica marginal com os pescadores nas suas canoas, a Lagoa azul e a estrada serpenteante com os penhascos a olhar-nos com superioridade, Neves e o caos de pessoas, porcos, hiaces, motas e cabras, de seguida Ponta Figo e as palmeiras, o túnel, as praias a preto e branco, Santa Catarina, com as casas de madeira à beira mar, a ponte sobre o rio Lembá, a maior do país, e por esta altura o alcatrão acabou, mais um pouco a subir, Ponta Furada do vosso lado direito, continuem, está quase, os campos de cafezeiros de cada lado e as copas por cima e... pronto, podem sair do carro e fazer o resto do caminho a pé porque acabaram de chegar ao fim da estrada.



 O fim da estrada não surge como uma linha traçada por alguém. Esse tipo de divisão não seria natural, não é assim que a Natureza opera. Em vez disso surge gradualmente com pequenos rebentos pioneiros que lutam por reconstituir vida à gravilha cinzenta. Aos poucos, plantas maiores vão surgindo, fetos, flores. A floresta convida-nos silenciosamente a continuar.



 A certa altura a estrada já desapareceu e apenas uma berma mais alta usada actualmente por vinhateiros e caçadores dá alguma pista que por baixo dos nossos pés jaz uma antiga estrada movimentada.



 Mais uma centena de metros para as profundezas e as árvores e palmeiras reinam sobre o que outrora foi terra de Homem. Este é o sítio onde a Civilização desaparece debaixo de raízes poderosas e dá humildemente lugar à Natureza.

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